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1 de junho de 2014

Carinho

Então é isso? A gente vive para esquecer e desconhecer pessoas? Para criar rotinas de trabalho e perder-se nas contas que se amontoam por debaixo da porta? Para acreditar e desacreditar no amor, nas pessoas e nos nossos sonhos?
Beijos dados no escuro criam nostalgia da época em que amigos eram mais presentes e menos irreconhecíveis ao olhares. Abraços com necessidade de pulos e pernas enganchadas na cintura criam lembranças de quando éramos importantes e nossas ações moviam mundos e sorrisos. Cochilos no banco traseiro do carro fazem as recordações darem  voltas dentro de nós salientar em como a pureza de fingir estar dormindo sempre será a melhor maneira de receber um carinho sincero.
Talvez o carrinho não seja necessariamente o que as pessoas acham que ele é. Ele pode estar num sorriso, na sensação de proteção que alguém te passa, num beijo roubado ou, até mesmo, num abraço que tire os pés do chão. O carinho é gostoso quando a outra pessoa sabe bem o significado da palavra "aconchego" e, assim, a põe em prática só com olhar. Muito mais do que um simples afago atrás da orelha, ele é a retribuição espontânea mais gostosa do mundo. Cuidados e anseios divididos com o objetivo de apaziguar a única pessoa que realmente sabe quantas colheres de açúcar tornam o meu café perfeito. Pode ser que precisamos só disto: mais beijos nos escuro, abraços pulados e cochilos no banco traseiro do carro.

Frederico Elboni

10 de julho de 2011

Lealdade ...



"Para meu desespero, Hassan continuou tentando fazer as coisas entre nós voltarem às boas. Lembro da última vez. Estava no meu quarto, lendo uma versão abreviada do Ivanhoé traduzido para o farsi, quando ele bateu à porta.
— O que é?
— Estou saindo para comprar naan — respondeu ele do outro lado da porta.
— Estava pensando se você... se você não queria vir comigo...
— Acho que prefiro continuar lendo — respondi, esfregando as têmporas. Nos últimos tempos, sempre que Hassan estava por perto, eu ficava com dor de cabeça.
— Está fazendo sol — disse ele.
— Estou vendo.
— Pode ser divertido dar um passeio.
— Vá você.
— Gostaria que viesse comigo — insistiu ele. E se calou. Algo esbarrou na porta, talvez a sua testa. — Não sei o que foi que eu fiz, Amir agha. Queria que me dissesse. Não sei por que não brincamos mais juntos.
— Você não fez nada, Hassan. Agora, vá embora.
— Pode me dizer o que foi. Não vou fazer nunca mais.
Enterrei a cabeça no peito, apertando as têmporas com os joelhos como se fosse um torno.
— Vou lhe dizer o que não quero mais que faça — disse-lhe então, com os olhos bem fechados.
— Pode dizer.
— Quero que pare de me perturbar. Quero que vá embora — exclamei. Desejei que ele revidasse, que arrombasse a porta, que me dissesse poucas e boas. Assim, seria mais fácil; tudo ficaria melhor. Mas não fez nada disso e, quando abri a porta, minutos depois, ele já não estava ali. Desabei na cama, enfiei a cabeça debaixo do travesseiro, e chorei.
Depois disso, Hassan ficou circulando pelas beiradas da minha vida. Eu tomava todas as precauções para que os nossos caminhos se cruzassem o mínimo possível, planejando os meus dias neste sentido. Porque, quando ele estava por perto, o oxigênio desaparecia do aposento. Sentia o peito apertado e tinha dificuldade para respirar; ficava ali, sufocando na minha bolhazinha de atmosfera absolutamente abafada. Mas mesmo quando ele não estava por perto, estava presente. Estava nas roupas lavadas e passadas sobre a cadeira de assento de palhinha, nos chinelos aquecidos deixados diante da porta do meu quarto, na lenha que já ardia no fogareiro quando eu descia para tomar o meu café da manhã. Para onde quer que eu me virasse, lá estavam os sinais da sua lealdade, da sua maldita lealdade inabalável. "

Por você, faria isso mil vezes...

"Comecei então a gritar, e tudo era cor e som, tudo estava cheio de vida e era maravilhoso. Abracei Hassan com o braço que estava livre e começamos a pular, ambos rindo, ambos chorando.
—Você ganhou, Amir agha! Você ganhou!
—Nós ganhamos! Nós ganhamos! — foi tudo o que consegui dizer. Isso não estava acontecendo. Logo, logo estaria piscando os olhos e despertando desse sonho maravilhoso; saindo da cama, descendo até a cozinha para tomar o meu café da manhã sem ter ninguém com quem conversar a não ser Hassan. Me aprontar. Ficar esperando por baba. Desistir. De volta à minha velha vida. Foi então que o vi no telhado lá de casa. Estava de pé na mureta, agitando ambos os braços. Gritando e aplaudindo. E aquele ali foi o único momento importante dos meus doze anos de vida: ver baba no telhado, finalmente orgulhoso de mim.
Mas, agora, ele estava fazendo alguma coisa, fazendo um gesto com as mãos como quem indica urgência. Então, compreendi.
— Hassan, nós...
—Eu sei — disse ele se desvencilhando do meu abraço. — Inshallah, ,vamos festejar mais tarde. Agora, vou apanhar aquela pipa azul para você — acrescentou. Largou o carretel e saiu correndo, com a borda do chapan verde arrastando na neve atrás de si.
—Hassan! — gritei eu. — Volte com ela!
Ele já estava dobrando a esquina, com as botas de borracha levantando neve do chão. Parou e se virou. Pôs as mãos em concha junto da boca.
Por você, faria isso mil vezes! — disse ele. E deu aquele sorriso de Hassan, desaparecendo então na esquina. Só voltei a vê-lo sorrir assim tão descontraído vinte e seis anos mais tarde, olhando uma foto Polaroid desbotada..."

2 de julho de 2011

É um teste ?

“ — O que é que estamos fazendo aqui? — indaguei ofegante, com o estômago se revirando de enjôo.
— Sente comigo, Amir agha — disse ele sorrindo.
Na verdade, me deixei cair ao seu lado e me estiquei em um pedacinho de chão coberto de neve, quase sem fôlego.
— Estamos perdendo tempo. Não viu que a pipa está indo para o outro lado?
Hassan trincou uma amora.
— Está vindo para cá — respondeu.
Eu mal podia respirar, e ele nem parecia cansado.
— Como pode saber? — perguntei.
— Eu sei.
— Como?
Ele se virou para mim. Algumas gotinhas de suor escorriam de sua cabeça raspada.
— Já menti para você, Amir agha? De repente, resolvi implicar com ele. — Sei lá
— respondi. — Já?
— Mil vezes comer cocô! — exclamou ele com ar indignado.
— De verdade? Você faria isso?
Ele me lançou um olhar desconcertado.
— Faria o quê?
— Comer cocô, se eu mandasse — respondi. Sabia que estava sendo cruel, como naquelas vezes em que debochava dele quando não conhecia uma palavra qualquer. Mas havia algo de fascinante, embora de um jeito doentio, em implicar com
Hassan. Era um pouco como brincar de torturar insetos. Só que, agora, ele era a formiga e eu é que estava segurando a lupa.
Ele ficou me encarando por um bom momento. Estávamos sentados ali, dois meninos debaixo de uma cerejeira, e, de repente, nos olhávamos, olhávamos de verdade. Foi então que aconteceu de novo: o rosto de Hassan mudou. Talvez não tenha mudado, não para valer, mas, de repente, tive a sensação de estar olhando para dois rostos: um deles, o que eu conhecia, aquele que era a minha lembrança mais remota; o outro, o segundo rosto, era o que estava escondido logo abaixo da superfície, já tinha visto isso acontecer antes e aquilo sempre me deixava um pouco atordoado. Esse outro rosto só aparecia por uma fração de segundo, mas isso era o bastante para me deixar com a perturbadora sensação de que talvez já o tivesse visto em algum lugar.
Então, Hassan piscava e voltava a ser ele mesmo. Simplesmente Hassan.
— Se você mandasse, faria, sim — disse ele afinal, olhando bem para o meu rosto. Baixei os olhos. Foi aí que descobri como é difícil olhar diretamente nos olhos das pessoas como Hassan, essas pessoas que dizem sinceramente o que pensam. —
Mas fico imaginando... — acrescentou ele. — Será que algum dia você me mandaria fazer uma coisa dessas, Amir agha?
E, com isso, Hassan me propôs um pequeno teste. Se eu ia provocá-lo, desafiando a sua lealdade, ele ia fazer o mesmo, pondo à prova a minha integridade.
Adoraria não ter começado aquela conversa. Dei um sorriso forçado.”


E eu jamais escreveria ou diria algo á você, que você não pudesse me lembrar depois de ter escrito/dito, portanto, se eu te disse que você pode confiar em mim.... VOCÊ PODE CONFIAR EM MIM!

28 de junho de 2011

...Monstro nenhum...

“No dia seguinte, enquanto preparava meu chá preto para o café da manhã, Hassan me contou que tinha tido um sonho. — Estávamos no lago Ghargha — disse ele. — Você, eu, o pai, agha sahib, Rahim Khan e mais um monte de gente. Fazia sol, a temperatura estava ótima e o lago estava límpido como um espelho. Mas ninguém estava nadando porque andavam dizendo que um monstro tinha vindo para o lago. Estava escondido lá no fundo, só operando...
Encheu a minha xícara, acrescentou o açúcar e soprou algumas vezes. Pôs então o chá diante de mim.
— Era por isso que todos estavam com medo de entrar na água. De repente, você descalçou os sapatos, Amir agha, e tirou a camisa.
"Não tem monstro nenhum aí", disse. "Vou mostrar a todos vocês." E antes que alguém pudesse impedi-lo, mergulhou na água e começou a nadar. Mergulhei também e saímos os dois nadando.
— Mas você não sabe nadar!
— É um sonho, Amir agha — disse Hassan rindo. — A gente pode fazer qualquer coisa. Seja como for, todo mundo começou a gritar: "Saiam daí! Saiam daí!", mas nós continuamos a nadar na água fria. Chegamos sãos e salvos ao meio do lago e paramos.
Viramos na direção da margem e acenamos para as pessoas que estavam paradas lá.
Pareciam formiguinhas, mas podíamos ouvir os seus aplausos. Agora estavam vendo.
Não tinha monstro nenhum ali, só água. Depois disso, mudaram o nome do lago, que passou a se chamar "Lago de Amir e Hassan, sultões de Cabul", e podíamos cobrar das pessoas que quisessem ir nadar lá.
— E o que isso significa? — perguntei eu.
Ele passou geléia no meu naan e botou em um prato.
— Sei lá... Tinha esperanças que você me explicasse.
— Ora, é um sonho besta. Não acontece nada...
— O pai diz que os sonhos sempre querem dizer alguma coisa. [...]




De repente, me deu vontade de desistir. Pegar as minhas coisas e ir embora para casa. O que é que estava pensando? Por que estava me metendo nessa enrascada, se já sabia qual seria o resultado? Baba estava lá em cima do telhado, olhando para mim.
Sentia o seu olhar no meu corpo como a gente sente o calor do sol ardente. Ia ser um fracasso estrondoso, mesmo para alguém como eu...
— Não sei se estou a fim de empinar pipa hoje — disse. — Está um dia lindo — retrucou Hassan.
Passei o peso do corpo de um pé para o outro. Tentei desviar os olhos do telhado lá de casa.
— Não sei, não. Talvez seja melhor voltar.
Então, ele deu um passo na minha direção e, baixinho, disse uma coisa que me deixou um pouco assustado.
— Não se esqueça, Amir agha. Não tem monstro nenhum; só um lindo dia.
Como eu podia ser assim tão transparente para ele quando, pelo menos em cinqüenta por cento das vezes, não fazia a menor idéia do que estaria passando pela sua cabeça? E era eu que ia ao colégio. Era eu que sabia ler e escrever. Era eu o inteligente. Hassan não era capaz de ler nem um livro de primeira série, mas podia me ler com a maior facilidade. Era um tanto perturbador, mas também um pouco reconfortante ter alguém que sempre sabia do que você estava precisando.
— Monstro nenhum... — repeti, sentindo-me um pouco melhor para minha própria surpresa.
— Monstro nenhum — disse ele sorrindo.
— Tem certeza?
Ele fechou os olhos e fez que sim com a cabeça. Olhei para aquelas crianças correndo pela rua, atirando bolas de neve.
— O dia está lindo, não está?
— Vamos lá? — indagou ele.
Ocorreu-me que talvez Hassan tivesse inventado aquele sonho. Seria possível?
Decidi que não. Hassan não era tão esperto assim. Eu não era tão esperto assim. Mas, inventado ou não, aquele sonho idiota tinha diminuído um pouco a minha ansiedade.
Talvez devesse tirar a camisa e nadar no lago. Por que não?"


"O caçador de pipas" - Khaled Hosseini

29 de maio de 2011

Não jogue a culpa nos outros

"Uma empresa estava dando prejuízo e os funcionários sentiam-se extremamente desmotivados. Era preciso fazer algo para reverter o caos. Ninguém, porém, queria assumir nada. Pelo contrário, o pessoal apenas reclamava que as coisas andavam ruins e que não havia perspectiva de progresso na empresa.
Um dia, quando os funcionários chegaram para trabalhar, encontraram na portaria um cartaz no qual estava escrito: "Faleceu ontem a pessoa que impedia o seu crescimento na empresa. Você está convidado para o velório na quadra de esportes".
Todos ficaram curiosos para saber que pessoa andara impedindo o crescimento deles
na empresa. E foram lá ver. Conforme os funcionários se aproximavam do caixão, a excitação aumentava:
- Quem será que andava atrapalhando o meu progresso? Ainda bem que esse infeliz morreu...
Um a um, agitados, os funcionários aproximavam-se do caixão, olhavam para dentro dele e engoliam em seco, caindo em seguida no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma. No visor do caixão, havia sido colocado um espelho.


→ Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento : você mesmo.




OQPACOG

28 de maio de 2011

Crescimento




"Um casal levou o filho de quatro anos ao médico porque o menino ainda quase não
falava, embora entendesse tudo que diziam. Os pais pensavam que a criança tivesse algum problema.
Depois de uma série de testes e exames, o médico concluiu que o menino tinha uma inteligência acima da média. Durante os testes, o médico observou que toda vez que
fazia uma pergunta à criança um dos pais imediatamente respondia por ela. O médico
aconselhou os dois a não falarem com a criança, e nem por ela, durante algumas
semanas. Quando retornaram ao médico alguns dias depois, a criança já falava
fluentemente. "


→ As pessoas aprendem mais praticando e errando do que seguindo as "decisões corretas" dos outros.


OQPACOG